Cooperativas do Distrito Federal adotam estratégias criativas para enfrentar a pandemia
Diante das dificuldades impostas pela pandemia da Covid-19, que geraram reflexos na economia, afetando o trabalho de milhões de brasileiros, as cooperativas do Distrito Federal precisaram se reinventar e adotar estratégias de sobrevivência. Agora, mais de um ano depois, o balanço é positivo. O setor cooperativista deu a volta por cima. No entanto, ainda em 2020, com as medidas restritivas de circulação, as cooperativas precisaram se adaptar à nova realidade.
Uma das cooperativas mais prejudicadas no início da pandemia foi a Recicle a Vida, que atua na área de reciclagem e reúne 70 cooperados. Foram quase três meses sem trabalho nas ruas, em função de um decreto do Governo do Distrito Federal (GDF) que proibia a coleta seletiva de lixo. O impacto foi grande, já que, em 15 cidades do DF, a coleta seletiva é feita por cooperativas.
“Ficávamos nos perguntando: como é que a gente vai pagar esse povo, de onde vai sair o dinheiro? Fomos então no Sicoob e pegamos empréstimo, com carência. Seguramos um na mão do outro para poder sobreviver”, conta Cleusimar Andrade, presidente da Recicle a Vida e da Rede Alternativa.
Depois desse período, a coleta seletiva foi retomada e a Recicle a Vida adotou medidas de segurança para proteger os cooperados. “Afastamos as pessoas de maior idade e as que têm comorbidades e passamos a trabalhar com turmas, em turnos alternados”, explica Cleusimar.
Outra cooperativa que precisou agir rápido para prestar apoio aos cooperados foi a Coopersystem, que desde 1998 presta serviços especializados nas mais diversas áreas da Tecnologia da Informação. “Conseguimos colocar os quase 300 cooperados em regime de home office, a partir da decisão de isolamento, em março de 2020. Todos eles, com notebook, conexão com os ambientes de desenvolvimento, internet e outros recursos necessários à realização de suas tarefas. E as reuniões diárias passaram a ser realizadas por videoconferência. Além disso, a Coopersystem criou subsídios e benefícios para os cooperados, para suporte ao trabalho remoto”, relata a diretora de Relacionamento e Negócios, Elza Cançado.
Depois do 'sufoco' dos meses iniciais de pandemia, a vida dos cooperados foi voltando à normalidade. Para os catadores da Recicle a Vida, tudo melhorou. Os ganhos mais que dobraram.: “a matéria-prima começou a ficar escassa e, então, o preço do material reciclado foi lá ‘pra cima’. Então, quando a gente voltou ao trabalho, veio o alento. Só para você ter ideia, o plástico que a gente vendia a R$ 3,60 chegou ao pico de R$ 6,50, quase o dobro. O papelão, que antes vendíamos por R$ 0,70, foi para R$ 1,40. Sucata de ferro, de R$ 0,35, subiu para R$ 1,18. Nosso faturamento, ao invés de cair, aumentou”, revela o presidente da Recicle a Vida.
A pandemia também mostrou ao dirigente da cooperativa de reciclagem novos caminhos e possibilidades de obtenção de ganhos no setor. Hoje, o foco da Recicle a Vida é, cada vez menos, a coleta seletiva. “A gente está se reinventando. A ideia é diminuir o enfoque no material reciclado. Começamos a trabalhar com a prestação de serviço para empresas, que agora são obrigadas a pagar pela coleta do seu lixo. Além disso, estamos atuando na área de combustível derivado de resíduo. Nossa cooperativa também comprou máquina nova e está investindo em um negócio promissor, em um tipo de plástico que tem gerado um faturamento significativo em nossa receita. Então, a perspectiva é muito boa”, revela Cleusimar.
Na CooperSystem, o cenário presente e pós-pandemia também é bastante positivo. “Firmamos novos contratos e novos negócios, o que nos levou a convidar mais pessoas a participarem do modelo cooperativo de trabalho, possibilitando assim mais geração de trabalho e renda. Relativamente ao exercício de 2020, foram distribuídas sobras significativas a todos os cooperados. O rumo que o momento pandêmico tomará ainda é uma incógnita. Porém, vislumbramos desde já que o trabalho remoto veio para ficar, já que esse modelo tem grande aprovação, não só dos profissionais como dos clientes que atendemos”, finaliza Elza Cançado.